quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Habemus Evandro
Evandro Prado, 20 anos, nasceu no bairro São Francisco em Campo Grande-MS e mora, ainda, na mesma casa, mas nunca esteve na mesma escola. Estudou na Escola Estadual Nicolau Fragelli, na Escola Estadual São Francisco, na Escola Estadual 26 de Agosto, na Escola Estadual Riachuelo e, por fim, no Latino Americano. Nunca foi reprovado, mas se não gostava da escola, mudava logo. Nunca pensava em ser artista, mas desenhava sempre e somente nos picos baixos da preguiça. Terminou essa fase de sua formação sem ler coisa que lembre, mas rabiscando, exercendo sua vontade e afiando a veia crítica.
Depois veio a universidade. Nas lembranças de seu despertar para a arte, menciona o incentivo de Rafael Maldonado, seu professor de desenho, e de Humberto Espíndola. Evandro está no último ano do Curso de Artes Visuais da UFMS. Diferentemente de muitos de seus colegas, orientados pelas idéias recebidas e generalizantes, ele gosta de política. Diferentemente de muito pintorzinho vaidoso, arrogante e inapentente à leitura, ele lê muito sobre arte, comprando seus próprios livros ainda que com dificuldades. E não é nenhum carola macambúzio. Se fosse, o bispo não o teria processado. Como muito outros jovens de sua idade, gosta de fazer musculação e morre por pastel, pizza e sorvete.
Os artistas que influenciaram suas buscas e seu fazer artístico foram dois: o brasileiro Nelson Leirner e o argentino Léon Ferrari que, para ele, tem um trabalho “mais engajado e de crítica à sociedade”. Evandro gosta da Arte Pop brasileira. Segundo ele, mais “politizada e contundente do que a americana, mais light”.
Evandro está, pois, no mau caminho, segundo o bisco Dom Vitorio Pavanello, o vereador Paulo Siufi, o deputado Sérgio Assis, o grupo da Defesa Católica e outras almas vigilantes. Por isso cometeu o pecado mortal, noticiado nos jornais da capital e na Folha de São Paulo do dia 24 de junho, com a exposição intitulada “Habemus cocam”, aberta ao público este ano pelo Museu de Arte Contemporânea – MARCO. Nela o artista apresentou uma série de obras que deveriam encantar os seus detratores, principalmente o bispo, pois nelas empenha-se em fazer uma crítica à sociedade de consumo que, visando apenas o lucro, banaliza tudo, as obras de arte, a fé e as utopias políticas, elevando as guloseimas à categoria do sagrado, como é ocaso da coca-cola. E faz isso com um certo humor e ironizando até a si mesmo, na medida em que, como disse, é um dos bilhões de consumidores do sagrado líquido americano.
O que o jovem artista empenhou-se em construir em suas obras foi uma enunciação que joga com discursos os mais variados e os valores que eles comunicam na vida diária. Tal qual um desses donos de ferro-velho, que compra de tudo, pensando numa futura utilidade do que vai amontoando, Evandro foi também guardando na memória esses discursos, imagens e símbolos para, como o dono dessas casas de ferro-velho, fabricar novos discursos, colando, cortando, ajuntando e subvertendo coisas, de maneira crítica. Um “bricoleur”!
O artista é daqueles que acreditam numa arte reflexiva, que produz ansiedade, pois o fazer artístico em que não há esse ingrediente, não pode ser chamado de arte. É um ponto de vista que pode não agradar, inclusive, a muitos outros artistas para quem a arte é apenas forma e ilustração de idéias. Para Evandro, a arte é em si um modo reflexivo de ação, um fazer que visa produzir isso mesmo que acabou produzindo: interrogação, inquietação, ansiedade, vontade de responder com moeda da mesma natureza – linguagem. E, nesse terreno, uns se dão bem e contribuem; outros dão com os burros n’água.
Foi na falta da compreensão disso que o bispo entrou na justiça com uma Ação Cautelar contra o artista, pedindo apreensão e destruição das obras e censura ao museu e, depois, com uma ação criminal, pedindo a sua condenação por vilipêndio à imagem sacra. Foi também por falta de saber ler que alguns políticos tentaram aprovar moção de repúdio e o cancelamento da exposição. Isso é mal? Até que não. É bom. É sinal de que houve reação da sociedade, de que o objetivo do artista se cumpriu: provocou o surgimento de palavras e contra-palavras, de apoios e condenações. É por aí que o campo artístico da capital pode enriquecer-se cada vez mais, nos debates travados entre artistas, críticos e público.
E para a gente não cometer grosserias de censura burra, para não meter os pés pelas mãos, basta um pouquinho mais de mente aberta e de leitura, principalmente para religiosos carentes de rebanho e políticos à mingua de legitimidade e de prestígio. Do contrário, com esses desejos extemporâneos de censura à porrada, vão ficar todos ex-comungados, cortados da comunhão com nosso tempo e nossa gente.
Ainda bem que habemus Evandro. Que surjam outros que, como ele, não só bebam coca-cola.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Lidia Bais

Lidia Baís viveu entre 1901 e 1985. Seu pai, Bernardo Franco Baís, foi um dos fundadores da cidade e comerciante de sucesso. Após passar por vários internatos, a moça acabou indo morar no Rio de Janeiro para estudar pintura com Henrique Bernadelli, em 1926. No ano seguinte, fez uma viagem com o tio Vespasiano Martins para a Europa e entrou em contato com o surrealismo. Além disso, foi colega do pintor Ismael Nery durante uma temporada européia entre 1927 e 1928. Após o verdadeiro petardo cultural a que foi submetida, Lídia retornou ao Rio de Janeiro, estudou com os irmãos Bernardelli e fez estágio na Escola Nacional de Belas Artes com Oswaldo Teixeira. Em 1930, a família a obriga a retornar a Campo Grande, então uma cidade de 25 mil habitantes. Nesta época troca correspondências com o poeta Murilo Mendes, que lhe passa um pito na última das cinco cartas encontradas. “É preciso que você abandone completamente as fórmulas antigas, que de nada lhe adiantarão”, ordenava o poeta.

O estilo de Lídia pode ser dividido em dois períodos. A maior parte dos quadros segue o acadêmico-realista, a fórmula antiga a que se referia Murilo Mendes, como os retratos que ela fez de todos os irmãos, por exemplo. Mas o que impressiona e a diferencia é a fase modernista, em que flerta com o surrealismo. Ou no ousado Última Ceia de Nosso Senhor Jesus Cristo, em que se põe como o apóstolo preferido de Cristo. A artista tentou então abrir o próprio museu na década de 40, o Museu Baís. Como não conseguiu, mandou recolher a obra e se dedicou cada vez mais à clausura religiosa. Com isso, Lídia se tornou a artista biruta de Campo Grande. Todos sabiam que um dia havia pintado, mas nunca viam seus quadros.

Durante toda a sua vida, teve uma única exposição individual. Foi em dezembro de 1929 na Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Não existem catálogos e uma das poucas provas do vernissage é uma foto em que Lídia aparece ao lado de Povina Cavalcanti, Murilo Mendes e amigos. Lídia só viu parte de seus quadros expostos novamente em 1979 e em 1983, dois anos antes de falecer. Nas últimas décadas de vida, no entanto, fechou-se e se dedicou à vida religiosa. Escreveu por volta de 1960 o livro “História de T. Lídia Baís”, em que repassa a sua vida e tenta se disfarçar ingenuamente atrás do codinome Maria Tereza Trindade.

O reaparecimento de Lídia Baís na cena artística de Campo Grande começou em 2003, quando o artista plástico Humberto Espíndola aceitou dirigir o Museu de Arte Contemporânea de Campo Grande com a condição de que o Governo do Estado assumisse o compromisso de restaurar a obra de Lídia Baís. Ele deixou o MARCO em dezembro de 2005 com o saldo de 25 quadros da artista restaurados com o financiamento da Secretaria e Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. Com o belo trabalho de restauro da sul-mato-grossense radicada no Rio de Janeiro, Áurea Katsuren, finalmente a obra de Lídia pôde ser reunida pela primeira vez em uma exposição coletiva em Campo Grande.

A relação de Áurea com o trabalho de Lída começou em 1995, por meio de Espíndola, quando ocupou o cargo de Secretário de Cultura de MS e encontrou as obras de Lídia empilhadas no banheiro da sede do órgão estadual. A restauradora foi a responsável pelo primeiro lote de 25 quadros e atualmente trabalha em quatro quadros do segundo lote. Ela lembra que recebeu alguns quadros em estado deplorável, como o importante Micróbio da Fuzarca, que chegou todo rasgado. A obra de Lídia, aliás, foi vítima do descaso com a memória e a falta de sensibilidade. No casarão da família, Morada dos Baís, o primeiro prédio de alvenaria de Campo Grande construído em 1918, o exemplo está vivo para todos que vão visitar o lugar.

Depois que o pai de Lídia foi atropelado pelo trem que passava em frente à sua casa, a Morada foi transformada na Pensão Pimentel até 1979 e depois deu lugar a vários tipos de comércio, como escolas, sapa



Humberto Espindola

Humberto Augusto Miranda Espíndola (Campo Grande, 4 de abril de 1943) é um artista plástico brasileiro, criador e difusor do tema bovinocultura.
Bacharel em jornalismo pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica do Paraná, Curitiba, em 1965, começa a pintar um ano antes. Também atua no meio teatral e literário universitário.

tete espindola

Teresinha Maria Miranda Espíndola, mais conhecida como Tetê Espíndola (Campo Grande, 11 de março de 1954) é uma cantora, compositora e instrumentista brasileira. Atualmente mora no bairro de Moema, em São Paulo.
As características de sua carreira estão na multiplicidade, com incursões pela vanguarda, o pioneirismo regionalista, fusões do acústico com o eletrônico e experimentalismos com pássaros.

Helena Meirelles

Helena Meirelles (Bataguassu, 13 de agosto de 1924 — Presidente Epitacio, 28 de setembro de 2005) foi uma violeira, cantora e compositora brasileira, reconhecida mundialmente por seu talento como tocadora da denominada viola caipira (às vezes denominada simplesmente viola).

Almir Sater

Almir Sater
Informação geral
Nome completo Almir Eduardo Melke Sater
Nascimento 14 de novembro de 1956 (54 anos)
Origem Campo Grande,  Mato Grosso do Sul
País Brasil
Gêneros Folk Acústico / Instrumental
Instrumentos Viola caipira e violão charango
Período em atividade 1981 — atualmente
Gravadora(s) Velas
Afiliações Paulo Simões
Renato Teixeira

Candido Portinari

Cândido Torquato Portinari[1] (Brodowski, 29 de dezembro de 1903Rio de Janeiro, 6 de fevereiro de 1962) foi um artista plástico brasileiro. Portinari pintou quase cinco mil obras—de pequenos esboços e pinturas de proporções padrões como O Lavrador de Café a gigantescos murais, como os painéis Guerra e Paz, presenteados à sede da ONU em Nova Iorque em 1956 e que em dezembro de 2010, graças aos esforços de seu filho, retornaram para exibição no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Portinari hoje é considerado um dos artistas mais prestigiados do país e foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.